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BUTANTAN HOJE


       Macaco Rhesus (Macaca mulatta)

Muito além das cobras

Cobra é um bicho que, desde Adão e Eva, inquieta a humanidade. Mas, na lista negra da criação, há outros suspeitos igualmente incômodos como aranhas, escorpiões, lacraias. Pois é por essa bicharada estranha, fruto, segundo alguns, de uma noite maldormida do Criador, que o Instituto Butantan de São Paulo é conhecido. Com suas belas matas e jardins, é lembrado também como um ponto turístico tentador. Mas a verdade é que, ao comemorar 100 anos, o Instituto se orgulha de ser principalmente um respeitado centro de pesquisa de ponta, um renomado produtor de vacinas e soros. O Butantan nasceu para combater uma epidemia de peste bubônica em Santos, sob o comando do cientista Vital Brazil. Hoje é o responsável por soros contra picadas de animais peçonhentos em geral, desde as taturanas assassinas às temíveis abelhas-africanas, passando, é claro, por diversas espécies de cobras. Mas não é só isso. Ele também fornece vacinas contra tétano, coqueluche, difteria, raiva, tuberculose e gripe.

É do Butantan que saem também os soros usados para diminuir a rejeição em pacientes que tiveram órgãos transplantados. Ali são feitos, inclusive, medicamentos para doentes renais que aguardam na fila de transplante e para bebês prematuros que nascem com os pulmões ainda não totalmente desenvolvidos. E, há um ano e meio, o Instituto começou a produzir um soro contra o botulismo, doença provocada por uma toxina altamente perigosa e cuja manipulação precisa ser cercada de cuidados. Contam-se nos dedos de uma mão os especialistas do Instituto que têm acesso ao laboratório, totalmente isolado e de altíssima segurança. Como nos filmes de mistério. Outra novidade recente foi o lançamento de um soro em pó contra picadas de cobras. A vantagem é que ele suporta temperatura ambiente de até 38 graus e dura até cinco anos, além da facilidade de transporte em regiões de difícil acesso. Para se ter uma idéia, o soro líquido, convencional, deve ser conservado entre quatro e oito graus e tem validade máxima de três anos.

O novo produto em pó é eficaz contra três grupos de cobras: jararaca, cascavel e surucucu. O pioneirismo nas pesquisas por novas vacinas sempre foi constante na história do Butantan. De 1901 para cá, já foram produzidos 35 tipos de soros. Utilizando técnicas de engenharia genética, os profissionais do Instituto desenvolveram há cinco anos uma vacina contra hepatite B. Atualmente estão em fase de estudos novas vacinas contra meningite, coqueluche, dengue, esquistossomose, uma versão oral contra a cólera e uma vacina dupla viral contra a rubéola e o sarampo. Com cerca de 900 funcionários, o Butantan produz 80% das vacinas e dos soros utilizados no Brasil. Além de ser o fornecedor exclusivo em vários casos, ainda exporta para países da América do Sul. No ano passado, por exemplo, o Instituto contabilizou 600 mil ampolas de soro e 70 milhões de doses de vacina. Esses números são ainda mais surpreendentes quando se leva em conta que, até 1985, a produção era praticamente artesanal. Hoje, o Butantan orgulha-se da competitividade à altura dos países de Primeiro Mundo. No ano em que comemora seu centenário, o Butantan remodela suas principais atrações. No Museu Biológico, os animais agora estão vivendo em áreas que reproduzem o seu habitat. O Museu Histórico leva os turistas de volta ao laboratório de Vital Brazil do início do século.

São mais de sessenta espécies de serpentes brasileiras e as trazidas de quatro continentes, além de aranhas e escorpiões. Os exemplares mais interessantes ficam no museu. Há najas da África e da Índia, jibóias e sucuris. O público encontra também uma estação multimídia sobre as serpentes brasileiras. Pode-se visitar ainda um serpentário ao ar livre e um alambrado com macacos usados para experiências.

Hoje o Instituto dispõe de instalações modernas, onde mais de 1.000 serpentes são mantidas em caixas plásticas, sob temperatura e umidade controladas. Os animais são tratados para eliminar parasitas e infecções, e só então utilizados para extração de venenos. Várias espécies de cobras vêm sendo criadas em cativeiro, e serpentários especiais foram construídos para sua manutenção.

Além de soros contra picadas de cobras, aranhas e escorpiões, o Butantan produz vacinas contra tétano, coqueluche, difteria, raiva e tuberculose. Também são realizadas pesquisas sobre a distribuição geográfica, a biologia e a sistemática de serpentes, aranhas e escorpiões e suas respectivas toxinas.

 

Notícias Instituto Butantan

Remédio contra trombose testado
18 Outubro de 2001

O Instituto Butanta vai começar a testar em animais a eficácia do veneno de uma taturana como remédio contra a trombose, o entupimento de vasos sanguínos por coágulos, informou-se de São Paulo.

A espécie estudada pelos cientistas, larva da mariposa Lonomia obliqua, ficou conhecida após uma série de envenenamentos na região Sul do país, há mais de dez anos. Descobriu que, além da urticária, as vítimas sofriam fortes hemorragias, em razão de um efeito anticoagulante.

Daí surgiu a idéia de que a substância poderia servir para destruir os coágulos que bloqueiam o fluxo do sangue.